Expectativas para o mercado solar em 2022

Isaque Guanabara explica quais são as principais expectativas de crescimento para o mercado solar em 2022, e os desafios que podem surgir ao longo deste ano.


Expectativas para o mercado solar em 2022

Apesar das inúmeras dificuldades ocorridas ao longo de 2021 – como a pandemia da Covid-19 –, que afetaram inúmeras empresas no Brasil, o setor fotovoltaico fechou o ano com “saldos positivos”, trazendo muito otimismo para o mercado de energia solar em 2022. 

Para Isaque Guanabara, que é fundador do Mercado Solar, há uma grande expectativa de crescimento para o presente ano. Contudo, há alguns desafios a serem enfrentados. Confira na entrevista a seguir:

Como foi o ano de 2021 para o mercado solar na visão de Isaque Guanabara

Para Isaque, o ano de 2021 foi bastante turbulento, em que várias dificuldades se apresentaram. Entretanto, elas foram superadas com êxito, fazendo com que esse fosse um dos melhores anos para a maioria das empresas. Com isso, foi possível observar um grande crescimento, com novos negócios iniciando e muitos se consolidando no mercado. 

Muitos desses obstáculos fugiram do controle, como a pandemia, em que todos acreditam que haveria uma normalização, que infelizmente não ocorreu. Mas, com todos os cuidados tomados, foi possível retomar o trabalho, tanto a nível nacional como mundial. 

Porém, com a retomada da fabricação de equipamentos que estava parada por um certo tempo, principalmente na China – que é o país que mais fornece equipamentos para o mercado brasileiro – alguns impactos sérios surgiram. Houve uma demanda mundial muito alta, em um curto espaço de tempo, fazendo com que houvesse uma indisponibilidade de material.

Uma fábrica que fica parada por 15 dias, por exemplo, trará um impacto gigantesco. E muitas delas pararam ou reduziram suas produções, tanto por causa da covid, como pela limitação energética e tufões, entre outros cenários que fizeram com que essa limitação ocorresse.

Em paralelo a isso, o mercado vinha retomando o consumo, o que gerou uma indisponibilidade de material, associada a superlotação dos portos, que ficaram sobrecarregados por um longo período de tempo. Algo que não envolve apenas o mercado solar, mas o de bens de consumo de modo geral. O frete de contêiner que custava $1.500, passou a custar $15.000, uma disparada de preço absurda, que refletiu no preço do produto final.

Apesar de o integrador estar disposto a pagar um preço mais alto e ter clientes querendo comprar, havia essa indisponibilidade. Alguns distribuidores passaram a vender apenas para parceiros de longa data. Mas o mercado é tão bom, que apesar dessas dificuldades, esse continua sendo um investimento atrativo, com uma grande procura. 

As principais expectativas para o mercado solar em 2022

Isaque afirma que em 2022 a expectativa é de que seja o melhor ano para o mercado de energia solar fotovoltaica do Brasil. Ele explica que este ano terá alguns pontos chaves que tornarão esse período como um divisor de águas para o setor. Entre eles, está a aprovação do projeto de lei 5829/19, com a publicação da lei 14.300. 

“Esse é um marco para o nosso setor, porque era algo que nós já estávamos esperando, mas também não apostamos todas as fichas, pois não sabíamos quando iria ser aprovada.”

O fato é que toda aquela discussão teve um “ponto final” e, por isso, nós veremos uma grande corrida contra o tempo para manter o melhor cenário da energia solar fotovoltaica, onde temos o retorno financeiro mais atrativo de todos os tempos.

Com isso, precisamos dividir a discussão por pilares:

I. Os clientes finais vão adiantar os projetos que estavam na gaveta, esperando o melhor cenário. Esse momento chegou e agora será uma corrida contra o tempo para conseguir garantir as regras atuais e manter os benefícios.
II. Com isso, o integrador terá bastante trabalho, e é provável que tenha uma expansão de equipe, o que abre oportunidades e empregos. Entretanto, Isaque acredita que tudo isso precisa ser bem planejado, de modo a evitar problemas e instalações mal feitas. 

“A pressa é inimiga da perfeição, então esse é um momento de ganhar dinheiro, mas não esquecer da qualidade.”

Isaque afirma que não dá para pegar uma pessoa despreparada e já colocar na “linha de fogo”, pois isso pode gerar problemas. Então o ano que deveria ser o melhor para a sua empresa, acaba se tornando o pior deles. 

Precisamos sempre tomar cuidado com a questão de segurança, por trabalhar em altura, com energia em corrente contínua, etc. Tudo isso precisa ser levado em consideração. O alerta de Isaque para os integradores está sobre a capacitação de pessoas ao expandir a equipe. Isso será necessário, porque a demanda de trabalho estará muito alta.

III. Para fabricantes e distribuidores será um ano fantástico. No segundo semestre de 2021 foi possível enxergar um aumento significativo no valor dos equipamentos, mas a tendência é que em 2022 isso não ocorra. Talvez pela grande demanda, o preço também não caia, mas o aumento é pouco provável, pois ele já está relativamente alto.
IV. Se tratando de usinas de 1 MW a 5 MW, que exigem um investimento maior, é um momento de grande crescimento. Esse é um mercado que pode ser mais impactado após a transição das regras atuais. Haverá uma grande quantidade de potência entrando na rede.

Esse é o momento em que os integradores devem olhar para um novo mercado. Aquele integrador que já passou os seus três ou quatro anos focado nas instalações residenciais, industriais e comerciais, com certeza já pode começar a olhar para o cenário de grandes usinas.

V. Nós temos também novas tecnologias entrando no mercado, como os inversores híbridos, que deverão ser certificados, para que seja possível homologá-los nos projetos. Temos a entrada dos sistemas híbridos do armazenamento de energia de modo geral.

Também ocorrerá a entrada dos veículos elétricos no mercado mundial como um todo, o que aumenta a escala de produção de baterias. Isso tende a baratear o custo desse equipamento para o sistema de armazenamento de energia.

Os veículos elétricos trazem muitas oportunidades, principalmente na parte de infraestrutura, de carregadores ao longo das rodovias e nas próprias residências. É importante começar a olhar e se preparar para esse novo mercado de mobilidade.

É muito provável que as empresas de integração de energia solar consigam esse novo braço, sem grandes esforços. Obviamente é muito importante buscar capacitação e conhecimento sobre o produto do qual se está trabalhando. 

Na visão de Isaque, a publicação da lei 14.300 vai impulsionar bastante a demanda de mercado solar em 2022, em que muita gente vai querer garantir as regras atuais e antecipar a homologação dos seus projetos. O mercado residencial, especificamente, vai crescer bastante.

Os principais desafios que podem surgir ao longo de 2022

Em termos de desafio que podem surgir ao longo deste ano, Isaque Guanabara os dividiu por pilares:

Necessidade de expansão de uma equipe capacitada:

O mercado como um todo terá demandas de sistemas fotovoltaicos muito alta, o que impacta diretamente aos integradores, que terão que trabalhar bastante e expandir a equipe. Essa não é uma missão fácil. A primeira dificuldade é, então, dar conta da demanda, associado ao crescimento de uma equipe organizada e sustentável. Portanto, é ideal buscar pessoas capacitadas ou capacitá-las para cumprir tal função.

Aumento de estoque para distribuidores

Para os fabricantes e distribuidores, a dificuldade é muito semelhante. Haverá uma grande necessidade no aumento de estoque, o que não é fácil. Os integradores darão prioridade para quem tiver os equipamentos a pronta entrega ou em um curto espaço de tempo. 

Contudo, se o distribuidor coloca um estoque muito grande e ocorre uma variação cambial, muitas vezes ele precisará vender para ter um lucro muito baixo ou chegar a não ter lucro, mas apenas evitar prejuízos. Contudo, se ele não possui estoque, não terá material para entregar e o integrador optará por outro. E trabalhar com essa expansão será uma dificuldade. 

Outro ponto, é que também poderá haver um aumento de preço por parte dos prestadores de serviço terceirizados, pois muitas empresas estarão buscando por esses profissionais.

Como a aprovação do Projeto de Lei 5829/19 pode influenciar no crescimento do mercado solar em 2022

A aprovação do PL 5829 irá antecipar muitos projetos, o que pode fazer com que o ano de 2023 tenha menos instalações. Os clientes finais podem ter a sensação de que, após iniciar esse período de transição prevista na lei 14.300, haverá uma perda do melhor momento da energia solar fotovoltaica. 

Mas logo ele voltará a enxergar que ainda assim é ideal realizar esse investimento e que quanto antes ele fizer isso, melhor será. Isso porque a demanda energética vem crescendo e a energia das matrizes que comumente vemos no Brasil hoje, sendo grande parte das hidrelétricas e termelétricas, tendem a continuar subindo.

Durante a pandemia e períodos de escassez hídrica, tivemos vários subsídios para essas outras fontes de energia, para que não tivéssemos um impacto muito grande na fatura, mas uma hora a conta chega.

Então, já começaremos a partir de 2022 a pagar algumas dessas contas. A tendência é que o custo de energia dessas fontes subam, fazendo com que a energia solar se torne mais atrativa, apesar do custo com o fio B ser maior, o que em alguns cenários pode parecer menos vantajoso.

Esse é um investimento com retorno financeiro atrativo, que também traz sustentabilidade. O custo com energia é um dos três maiores das indústrias, por exemplo. E além da economia, vem a questão da previsibilidade da energia consumida. 

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